31 de janeiro de 2012

XXII- Pensamentos do Salvador

 SALVADOR 

   Angustia-me o facto dela não me querer. E de ter outro, e viver em função dele. Desde o primeiro momento que a vi que soube que era a "tal", não queria que me dissesse o seu nome e logo não o disse no « 1º encontro ».  Porque não vemos quem realmente é a pessoa por dentro através do nome. O nome é só mais uma pequena coisa insignificante juntamente com o apelido. Aqueles cabelos loiros, parecidos com raios de sol, e aqueles lábios carnudos fizeram-me lembrar a minha mãe que já faleceu à 10 anos atrás, tinha eu 9. Foi num acidente de carro, como tantos outros iguais que acontecem pelo menos uma vez por dia em todo o mundo. Mas estava a falar da grande Joana, a minha Joana, pelo menos minha nos meus sonhos e nos meus pensamentos. Sim sou muito lamechas... Saiu ao meu pai, que também já não está presente na vida dos terrestres. O meu pai era uma pessoa super dócil, sempre a querer ajudar o próximo e como já disse muito apaixonado, sempre com paixão dentro do seu corpo a tentar sair e dar de si o seu melhor. Tal como eu, neste momento... A Joana, foi super diferente das outras, nem nunca lhe chamaria uma qualquer porque sem duvida ela sempre sempre AQUELA. Foi por isso que lhe cativei com as minhas provocações e deixei neste estado, dividida. Quer dizer, penso eu. Porque na verdade não leio pensamentos nem muito menos sou vidente, mas eu sinto que eu não lhe sou indiferente. Ela deixa-se levar, de uma maneira inimaginável, e depois no momento que eu penso que é o momento certo, zassssss, ela deixa-me e isso acontece quase sempre que estamos juntos. Qual será o momento certo? Quando será que eu lhe digo a verdade? E o que sinto? Talvez nunca, porque 1º não sei se iria conseguir exprimir os meus sentimentos gigantes que tenho por ela. E 2º porque ela iria achar que eu sou doido, conheço-a à 1 ou 2 semanas e já sou apaixonado.

Ás vezes dou em doido, fico no meu quarto sentado na secretária, a vê-la nos meus pensamentos a desenhá-la numa simples folha branca com um lápis de grafite super normal. Não sou artista, mas safo-me. Apesar de me dizerem que definitivamente devia ter seguido artes ou arquitectura, em vez de ter seguido medicina. Medicina não é algo que me cative e me faça querer aprender mais e nem muito menos aquilo que eu adoro fazer mas tinha duas opções na vida, ou tinha um emprego estável ou vivia na miséria com a profissão de bodyboarder  com o qual sonhava todas as noites quando era puto. Foram escolhas e afinal de contas tenho que aproveitar porque na verdade são os meus tios que estão a pagar a faculdade. Eu vivo aqui com eles, são muito bacanos e temos uma relação muito pegada, são os meus segundos pais.


Mas, e a Joana... A Joana é um caso pendente, um caso ainda para pensar. Uma coisa que nunca vou fazer, é desistir, isso nunca irei fazer tenho a certeza.

XXI

  Aquele silêncio constrangedor estava-me a perturbar imenso. Talvez isso não acontecia com ele, talvez tivesse a gostar de estar ao meu lado e sentir a minha respiração inquieta e incontrolável. Era um momento inesquecível, tenho a certeza que aquele simples momento nunca me sairia da memória, nem mesmo se alguma vez sofrer de alzheimer. Estávamos deitados nas dunas à pelo menos meia hora, e não haviam palavras construídas nem pensadas para dizer naquele momento, com medo de o estragar. Num movimento repentino, virei a cabeça na sua direcção e os nossos olhares cruzaram-se e embrulharam-se durante algum tempo. Não sabia se iria estar a olhar para mim, nem mesmo se tinha passado aquela meia hora insuportável  a olhar para mim... A verdade é que estava farta de estar calada, então mudei isso.

Joana: Olá... - sussurrei à medida que me virava de frente para ele.
Salvador: Gostas?
Joana: Adoro. - soltei um enorme sorriso envergonhado.
Salvador: Estava com receio que não gostasses.
Joana: Porquê?
Salvador: Porque nunca trouxe ninguém aqui. - disse num tom de voz muito baixo.
Joana: Porquê eu?
Salvador: Não sei.
Joana: Nunca sabes nada. - disse meio triste com as respostas curtas e sem sal que ele me dava.
Salvador: É difícil exprimir o que sentimos.

Ok... Foi aí que me arrependi imenso de ter tido a iniciativa de começar a falar. Exprimir sentimentos? Isto está a ficar muito mas, mesmo muito estranho. Mal o conheço, e mal ele me conhece como pode estar a dizer isso. Bem, eu também posso estar a confundir as coisas, sim só pode. Aquele silêncio maldito voltou a aparecer para meu espanto, não voltei a ter iniciativa. Então, só restava-lhe a ele começar a dizer alguma coisa. E claro que disse.

Salvador: Queres ir à água?
Joana: Deve estar tão fria. - fiz uma cara de descontente.
Salvador: Anda lá. - agarra-me no braço, provocando-me um arrepio pela espinal medula.
Joana: Está bem.

Fomos andando pela areia, que me fazia imensas cocegas ao ponto de soltar pequenos risinhos no caminho para uma pequena lagoa debaixo da grande rocha de 4 metros que passámos para ir para as dunas onde estivemos durante sensivelmente 1 hora, sem falar.

Joana: Que lindo.
Salvador: Gostas, Joana?
Joana: Gosto imenso. - abracei-o. - Obrigada por me teres trazido aqui estou a adorar.
Salvador: E eu estou a adorar ter-te nos meus braços. - sussurrou-me ao ouvido.
Joana: Não digas isso. - continuei a abraça-lo.
Salvador: Porquê? Tens medo de algo?
Joana: Tenho.
Salvador: Do quê? - fez-se desentendido, é óbvio que ele sabia do que receava.
Joana: Salvador... - disse baixinho, no mesmo instante que o deixava dos meus braços.
Salvador: Sim...



 E o momento era super especial estávamos envolvidos, e parecíamos os protagonista de um filme romântico onde só nós éramos os principais e os outros os secundários, na verdade estávamos tão envolvidos que nos esquecíamos das consequências. A água da lagoa estava inquieta, e balançava enquanto nos tocava nos tornozelos, ficámos frente a frente, corpo a corpo, e olhos nos olhos.

Joana: Vou-me embora. - Peguei nas minhas coisas, e fui em direcção a casa.

No caminho para casa, pensava na minha atitude tomada à minutos atrás. E fui-me arrependendo ao momento que o tempo decorria, ele simplesmente viu-me a ir embora sem desviar o olhar mas com os lábios colados um no outro. Estou preocupada comigo.

25 de janeiro de 2012

XX

Era quinta-feira, o Ricardo tinha saído com o T para fazer surf, e a Sara foi de atrelado. Não me apeteceu ir, estou tão farta de os ver a fazer aquilo, enfim estava um pouco sem paciência. Fiz uma pequena lista para tentar decidir o que ia fazer hoje: 1.º arrumar o quarto. 2.º ler. 3.º ir ter com o Miguel à praia. 4.º ir à praia deserta meditar.
 Arrumar o quarto está fora de questão. Ler? Não me apetece. Ir à praia ter com o Miguel, só para  lá chegar tenho que fazer 5 km, e não me apetece andar. Estou muito preguiçosa hoje. A última opção era ir à praia deserta meditar, aceito. Peguei na mala de praia , vesti o biquíni tranquei a porta e fui até à praia. Mas... -há sempre um mas- Quando se encontra o Salvador pelo caminho.

Salvador: Já não te via à uns dias. 
Joana: Isso são só saudades? - sorriu.
Salvador: Nem por isso. - tentou mentir.
Joana: Mentiroso.
Salvador: Se fosse verdade eu dizia. - sem sucesso, continuo a tentar.
Joana: Vou tentar fingir que acredito em ti. - sorriu novamente e ele retribui. 
Salvador: Vais aonde? - mostrou-se curioso.
Joana: Porquê? Queres-me acompanhar?
Salvador: Não, quero-te levar a um sitio. - faz uma cara envergonhada.
Joana: Eu ia à praia deserta.
Salvador: Então, vamos?
Joana: És um colas. - disse enquanto íamos andando para a praia. - O que vais mostrar?
Salvador: Já te disse que é segredo. 
Joana: O tal segredo! - disse, surpreendida. - Pensei que não me ias mostrar.
Salvador: Sabes, eu mudo de ideias muito rapidamente. 
Joana: Isso é um defeito.
Salvador: Depende de como vês, pode ser uma qualidade. - pisca-me o olho.
Joana: Não me parece. - sorriu. - Aonde me levas?
Salvador: Já te disse que é surpresa.
Joana: Já não me fazem surpresas à bastante tempo.
Salvador: O teu namorado não te faz surpresas? - provoca-me.
Joana: Não sejas estúpido. - não gostei nada da "piada". - Já chegámos? 
Salvador: Estás a ver algo de extraordinário?
Joana: Não.
Salvador: Então é porque ainda não chegámos. - aquele sorriso deixa-me doida.


O tempo não parava e nós andavamos pela praia a fora, quando passámos uma grande rocha perto das ondas que roçavas na parte da frente da rocha. A rocha tinha pelo menos uns 4 metros, mas tinha uma passagem bem redonda para um sitio nunca antes visitado - pensava enquanto visualizava a paisagem maravilhosa diante os meus olhos. 


Joana: Porquê que me trouxeste aqui? - estava muito intrigada, ele passou a mão pela cabeça como se não se conseguisse exprimir e responder-me.
Salvador: Não sei. - diz gaguejando.


Havia uma imensidão de areia à nossa volta e trilhos nela desenhados pelos pescadores desta zona.  Ele levou-me para as dunas, eu despi-me apenas a ficar de biquíni e ele de calções depois pareceu telepatia e no mesmo segundo deitámo-nos na duna. 
 Ficámos imóveis e não dissemos nada um ao outro. Se calhar porque estávamos a gostar do momento ou então ao contrário. A verdade é que se pudesse ficava ali até nunca mais.

12 de janeiro de 2012

XIX

    « Dear Joana, (sabes que tenho as manias das línguas devido ao facto de estar a tirar um curso de línguas como tu tanto sabes, ou sabias) deves-te estar a perguntar o motivo desta carta. Acertei? Já te conheço demasiadamente bem para saber o que te vai na "alma". 
Simplesmente estava a arrumar a minha casa num dia melancólico e muito caloroso, em Lisboa quando encontrei algo perdido no meio das minhas revistas de desporto. À primeira vista parecia um pequeno papel dobrado aos bocados e sujo parecendo que já lá estava à séculos, talvez desde o século passado. Tinha uma cor amarelada e pelo menos cinco centímetros de dimensões. Ainda pensei que fosse um pequeno talão mas lembrei-me que coloco todos os talões, cartas e papelinhos desse tipo dentro do porta-luvas do carro. Tenho aquilo completamente a abarrotar de talões do Mc Donald's e da Ericeira Surf Shop, os meus grandes vícios como tu tanto sabes. Mas, não te escrevi para estar a falar dos meus vícios, nem mesmo dos talões insignificantes que guardo no carro. É realmente do que encontrei no meio da bagunça das revistas que costumam estar empilhadas perto da minha colecção de CD's . 
  Sei que foste de férias para a Zambujeira do Mar, a tua mãe disse-me, fui a Mafra antes de ontem e tive com os teus pais, por acaso. Ela disse-me que tinhas ido com a Sara e o T, espero que te divirtas aí e que penses em nós, pois disseste que falávamos daqui a uns dias e esperei até ver uma chamada tua ou uma mensagem e nada encontrei no meu telemóvel. Espero que o que encontrei e o que te vou mandar te faça mudar de ideias. Já é de algum tempo, onde as coisas não passavam de coisas insignificantes mas por outro lado que nos prendiam a quem mais gostávamos, e que talvez ainda gostemos. 
   Quero ainda dizer que todos os dias penso em ti, na nossa história como começou e como terminou. Ainda estou meu tonto com a maneira de como terminamos a nossa relação, sinceramente não percebi. Espero quando voltares dessas férias que possamos falar, já com as ideias bem defenidas, mas para isso pensei em mandar-te o " papel amarelado e dobrado aos bocados" para recordares dos bons momentos que passámos juntos, apesar de já teres muitos desses.
 Lembra-te de nós com este pequeno papel sujo e velho. 

Um grande beijo, Diogo Fonseca.  »



Com palavras tão sinceras pequenas gotas de água, chamadas lágrimas, escorreram-me pela face aos montes. Grandes momentos passaram pela minha memória enquanto lia a carta tão honesta que o Diogo me mandara. Em anexo, vinha uma pequena fotografia, velha e suja como ele disse mas é isso mesmo que dá a importância à fotografia. Éramos nós, tínhamos 14 anos e estávamos abraçados no tal banco de madeira onde eu terminei com ele. Foi nesse dia que começámos a namorar, foi dos melhores dias da minha vida até este mesmo momento, naquela altura tudo era verdadeiro e grandioso. Esta carta mexeu comigo...

Ricardo: Olá? Bom dia. - disse ao sair da porta de casa, eu nem pensei em mais nada escondi a carta atrás de mim.
Joana: Bom dia. - disse de um modo arrogante.
Ricardo: Podemos falar?
Joana: É mesmo isso que queres? É que temos muito que falar.
Ricardo: Pois, não dormi nada hoje à noite só de pensar no que aconteceu.
Joana: Ao menos tinhas uma cama só para ti, porquê que não aproveitas-te ao máximo? - fui outra vez arrogante.
Ricardo: Desculpa Joana, não devia ter fechado a porta, fui um idiota.
Joana: Podes crer que foste. - deixei-me apenas por pequenas palavras para não me exaltar.
Ricardo: Só que não me controlei e tu sabes disso.
Joana: Essas coisas comigo não funcionam, ou começas a controlar-te ou assim não vai resultar, por muito que me custe.
Ricardo: Prometo que não vai voltar a acontecer.
Joana: Espero bem Ricardo. - passo por ele e vou até à cozinha, sinceramente ainda estava um pouco magoada com ele.

 Passei a tarde toda enfiada no sofá a ver televisão e especialmente a pensar na carta. Mas que SORTE.

11 de janeiro de 2012

XVIII

  Estava uma noite quente, e a lua cheia sobressaia em volta das estrelas. Quando olhei através da janela para o céu, lembrei-me de uma noite em que tinha eu seis anos, a lua estava completamente igual. Mas, todos sabemos que isso é impossível...
Estávamos a passear e ao mesmo tempo a ir andando para uma discoteca, perto de uma praia e da vila andávamos num passeio enorme com pessoas a passar de sentido contrário ao nosso e no mesmo sentido. Crianças, adultos, adolescentes, mulheres e homens nunca antes visto por qualquer um de nós os quatro. Eu e o Ricardo estávamos de mãos dadas, enquanto a Sara e o T apenas seguiam em frente sem cruzarem os olhares. Custava-me ver a minha amiga sem conseguir fazer nada, sei que o seu receio é maior que a sua ousadia mas isso um dia terá que mudar, talvez amanhã ou então para a próxima semana, quem sabe? É incerto. Depois de vinte minutos a andar sem saber o destino - bem, o que aparecesse era onde entrávamos - encontrámos um grande edifício, devia ser um apartamento ou algo assim, mas no rés do chão, encontram-se umas grandes luzes fluorescentes a dizer  "Clube da Praia" , tinha umas paredes grafitadas com algo abstracto, mas ao mesmo tempo interessante. Da parte da frente tinha duas janelas pequenas e brancas. E na rua umas quantas cadeiras para quem quisesse ir fumar um cigarro à rua ou então para apenas descansar um pouco do ambiente que se encontrasse na discoteca às tantas da manhã.
  Na rua ainda estava um calor agradável, mas já eram 02:30 horas da manhã e decidimos entrar naquela discoteca, ainda se encontrava com um som ambiente e com imenso espaço para se movimentar, mas dali a trinta minutos aquilo iria encher e iria sentir que eramos umas sardinhas enlatadas. Tinha várias cadeiras e mesas para quem não quisesse dançar ou quem talvez preferisse beber um copo e ver as pessoas a dançar e divertirem-se. O Ricardo, o T e a Sara sentaram-se enquanto eu me dirigi ao balcão.

Joana: Boa noite. - disse para o empregado e ele disse igualmente a mesma coisa. - São 4 imperiais, se faz favor.
Empregado: Claro que sim. - respondeu-me ao mesmo tempo que ia tirando as cervejas. - Nunca te vi por aqui, estão de férias?

 Este rapaz não devia ter nenhuma vergonha, bem mas também já deve estar habituado com tanta gente que passa por aquele bar não há de admirar que se meta com toda a gente. Ele tem os cabelos castanhos claros com umas ondulações, parecendo as ondas que o mar faz quando está irritado. Uma cara oval, e um bronze que mete inveja a toda a gente com um tom de pele super branco. Os seus lábios eram carnudos fazendo lembrar os lábios da Angelina Jolie, mas um pouco mais pequenos. Quando falava a sua maçã de Adão oscilava, e os seus olhos tinham um brilho inexplicável fazendo com que os seus olhos castanhos comuns não sejam apenas uns olhos castanhos como tantos outros. Faziam e descreviam a sua personalidade, e foi por isso que lhe respondi, sem medo.

Joana: Sim, viemos para cá ontem de manhã. - solto um sorriso.
Empregado: Bem, espero que gostem de cá estar e se precisarem de algo podem vir ter comigo. Sou o Miguel. - dizia enquanto colocava os copos em cima do balcão.
Joana: Obrigada, eu sou a Joana. Ali, é o Ricardo, o Tiago mas tratam-lhe por T e a Sara. - apontava.
Miguel: Amanhã vou estar de folga, se quiserem apareçam aqui vou estar com uns amigos.
Joana: Claro que aparecemos, além disso ainda não fizemos nenhuns amigos. Eu iria adorar conhecer os teus amigos.
Miguel: Então pronto, amanhã encontrámo-nos aqui.
Joana: Sim. Quanto é? - disse tirando a carteira da mala.
Miguel: Fica na minha conta.
Joana: Nem penses nisso.
Miguel: Vá só desta vez. - sorriu.
Joana: Está bem, mas amanhã sou eu que pago. - pisco-lhe o olho e dirijo-me à mesa.
Sara: Era impressão minha ou estavas a falar com o empregado de mesa?
Joana: Estava, chama-se Miguel e convidou-nos para vir aqui amanhã  que ele está de folga e de certeza que nos vai mostrar as redondezas.
Ricardo: Tu nem conheces o gajo de lado nenhum.
Joana: Ó Ricardo menos, por favor.
T: Eu curto da ideia.
Joana: Vês Ricardo? Parece que és o único do contra.
Ricardo: Não gostei que estivesses ali a falar com um gajo que nem conheces de lado nenhum, desculpa lá. - faz uma cara de enjoado.
Joana: Isso são só ciúmes? Digo-te já que não gosto dessa cenas. - O T e a Sara manterão-se em silêncio.
Ricardo: Não, não são ciúmes.
Joana: Ok, eu vou até lá fora, preciso de apanhar um bocado de ar.

Saí porta a fora, e sentei-me naquelas cadeiras do passeio. Pelos visto também servem para apanhar um pouco de ar quando o ar dentro do bar já está a sufocar-nos. A quantidade de pessoas que passeavam pelo grande passeio tinha reduzido drasticamente, e apenas passavam pessoas de 2 em 2 minutos. Estava distraída a olhar para o luar que me colocava completamente fora de mim, pressenti que se chegavam perto de mim, olhei em frente e vi um rapaz alto a vir na minha direcção, não consegui definir bem a sua cara então continuei a olhar para ele. Era o Salvador...

Salvador: Sozinha? Numa noite desta? A tua amiga não veio contigo?
Joana: Está lá dentro. - tentei ignorá-lo.
Salvador: E posso fazer-te companhia? - sorriu energicamente.
Joana: Não. - disse de um modo rude.
Salvador: Porquê? 'Tás com medo?
Joana: Achas que tenho medo de um ratinho como tu?
Salvador: Olha que este ratinho pode meter-te medo.
Joana: Duvido que alguma vez tal coisa aconteça, lamento. - desisti de tentar ignorá-lo, era inevitável.
Salvador: Se tiver oportunidade, um dia irei mostrar-te algo que irás adorar.
Joana: O quê?
Salvador: É segredo.
Joana: Ok, também não quero saber! - na verdade queria saber, e muito.
Salvador: Tu é que perdes.
Joana: Mas já não me vais mostrar?
Salvador: Não sei, fica nas mãos da tua imaginação. - manda-me um olhar brilhante e sincero.
Joana: O quê?

O Ricardo aparece, e dirigi-se a mim.

Ricardo: Acho que vou embora. - olha para o Salvador. - Quem é este?
Joana: Não sei, ele parou aqui a atar os atacadores dos tenis e disse-me boa noite.
Ricardo: Mais um novo amigo? Parabéns Joana. - começa a afastar-se.
Joana: Ricardo, não é nada disso... - disse mas ele como se afastou nem ouviu.
Salvador: Ok, eu não percebi absolutamente nada do que se passou.
Joana: Era o meu namorado.
Salvador: O teu namorado? Pensei que fosses solteira. - disse agora com o olhar melancólico.
Joana: Pois, mas não sou. É desta que deixas de andar atrás de mim?
Salvador: Eu não ando atrás de ti, Joana. E mesmo que andasse não iria deixar de andar só porque tens namorado, não estava a fazer nada de mal.
Joana: Está bem.
Salvador: Porquê que não lhe contaste que nós já nos conhecíamos?
Joana: Olha Salvador, falamos noutro dia. Estou sem paciência, desculpa! - volto para dentro do bar. - Meninos eu vou embora, querem vir comigo?
Sara: Pensávamos que já tinhas ido com o Ricardo.
T: Ya, mas sendo assim vamos contigo. - eles levantaram-se e fomos em direcção a casa.

   Quando saímos do bar, acenei ao Miguel e quando cheguei até cá fora o Salvador já não estava lá. Tinha os pés doridos, sinceramente não estava habituada a andar de saltos altos. Durante o caminho de regresso a casa a Sara tentou perguntar-me o que tinha acontecido mas eu apenas disse que não queria responder a isso, então ela logo viu que foi um bocado para o sério. Quer dizer, foi sério demais para o Ricardo, mas também não devia de lhe ter mentido, enfim, o que está feito está mesmo feito e não há maneira de voltar atrás. Estávamos a chegar a casa e passámos pela casa do Salvador que ficava mesmo ao lado da nossa, não sei se vivia com os pais ou se estava de férias, ou então se vivia sozinho. Ou seja, eu não sei absolutamente nada dele além dele fazer bodyboard e de se chamar Salvador, não sei porquê que ainda continuo a falar com ele. Será porque me desperta interesse? Ou será porque ele de qualquer maneira com o seu palavreado me cativa? Serão questões que terei de discutir num dia em não terei nada para fazer ou estiver mais preguiçosa do que o habitual.
  Chegámos a casa, eu fui até à cozinha peguei numa caneca enchi-a de leite e bebi. Depois, dirigi-me até ao meu quarto mas por mais estranho que seja a porta estava trancada, « mas que grande birra.» disse quando vi que estava trancada. A Sara e  o T não pronunciaram nada, pois não se queriam meter nas nossas coisas então eu voltei para baixo. Peguei num cobertor e deitei-me no sofá a tentar adormecer, mesmo não tendo sono. As horas passaram-se e não consegui pregar olho, eram 07:00 horas da manhã e o sol estava a nascer, fui para o alpendre e sentei-me numa espreguiçadeira ver o nascer do sol, mesmo assim o meu sono ainda não aparecera. As horas continuaram a passar e ninguém de cá de casa tinha acordado, apenas eu que ficara acordada a noite inteira.
Estava descansada a olhar para o céu azul de uma segunda feira de manhã quando oiço um barulho de uma mota a aproximar-se da nossa casa, era o correio. O correio? Mas quem seria que ainda mandava cartas no século XXI? Provavelmente seriam os pais ou os avós do T, não sei. Mas além disso gosto da ideia da carta, faz-me lembrar os tempos antigos em que se falava por correspondência de cartas, é muito engraçado como as cartas hoje em dia já não têm quase nenhum uso. O carteiro afastou-se e eu levantei-me da espreguiçadeira e dirigi-me até à caixa do correio. Abri-o e vi uma pequena carta, tirei-a e vi a quem se dirigia. Tive uma grande surpresa, era para mim, normalmente quando me querem contactar ligam-me ou mandam-me uma mensagem pelo telemóvel ou pelo facebook ou até mesmo um e-mail, mas mesmo assim quem me mandara aquela carta deveria ter uma larga imaginação e criatividade. Vi o remetente e fiquei completamente perplexa, nem quis imaginar. A carta era do Diogo, o que será que está lá escrito?





7 de janeiro de 2012

XVII

    E o tempo passou a voar, já eram 18:00 horas e estava tudo uma lástima. A cozinha estava toda desarrumada com restos de comida nos pratos do almoço, e um monte de loiça suja no lava-loiça para ser lavada quando não tivesse mais espaço para acumular. O Ricardo e o T divertiam-se a jogar counter strike, são completamente viciados, com os olhos vidrados no ecrã e o corpo imóvel apenas os seus dedos se mexiam. Eu e a Sara estavamos no 2º andar, na varanda com vista para a praia deserta. Estávamos a por a conversa em dia, que bem precisávamos, já não falamos só nós à umas boas semanas. Na varanda tinha uma pequena mesa para pôr-mos um livro ou algo assim do género, e duas cadeiras de rede que baloiçavam, eu adorava aquelas cadeiras.

Sara: Estou a começar a gostar do T.
Joana: A sério? Não tinha reparado nisso. - disse-lhe com um certo sarcasmo.
Sara: Ó Joana não sejas irónica.
Joana: Sarinha, eu sei que gostas dele à bastante tempo.
Sara: Isso não é bem verdade. Eu agora tenho a certeza que gosto mesmo dele, que o amo. E antes, apenas era uma coisa com quase nenhum significado.
Joana: E eu tenho a certeza que ele sente o mesmo.
Sara: Pois, mas sabes que ele estava boé interessado na Adriana da nossa turma.
Joana: Acho que isso já faz parte do passado. Tu vês bem como ele olha para ti?
Sara: Não da mesma maneira que o Ricardo olha para ti.
Joana: Ó Sara...
Sara:  É verdade Joana, eu tenho um certo medo de dizer que gosto dele ou que estou interessada.
Joana: Tens que perceber que também são coisas diferentes, a minha relação com o Ricardo é diferente que a tua relação com o T, daí diferentes olhares e não sei quê. - disse-lhe muito sinceramente. - E não tens que ter medo.
Sara: Que achas que deva fazer?
Joana: Falar com ele.
Sara: Vou ganhar coragem. - disse ainda com um pouco de receio. - E agora uma coisinha, quem era aquele rapaz que estavas a falar ontem à tarde?
Joana: Era um atrasado mental que se meteu comigo.
Sara: Era bem bonito. - sorri.
Joana: Achas? Eu não achei nada de especial.
Sara: O quê? Ele assim à primeira vista pareceu bem bonito. Tu tens cá uma sorte.
Joana: Sorte? Nem tu sabes o que aconteceu hoje, não me largou.
Sara: Queres trocar de posição? - disse ao mesmo tempo que se ria.
Joana: Olha, não me importava nada.
E do nada o Ricardo aparece á porta...
Ricardo: Não te importavas de quê?
Sara: De... - interrompia.
Joana: De ir lá abaixo buscar um copo de sumo para a Sara.
Ricardo: Eu vinha buscar-vos para irem lavar a loiça. - ri-se.
Sara: O quê? - disse indignada.
Joana: Não és nada marxista.
Ricardo: Vá vá, vou para baixo e fico à vossa espera. - disse a rir-se novamente, e depois chegou-se ao pé de mim e deu-me um beijo, e desceu.
Sara: Porquê que não lhe disseste?
Joana: Não quero que ele saiba, não o quero preocupar.
Sara: Como assim?
Joana: O Salvador anda sempre atrás de mim, ou se não anda é um grande coincidência.
Sara: Mesmo assim devias de lhe contar.
Joana: Ok, vamos mas é descer.

Lá em baixo...

T: Vá comecem a trabalhar. - disse na brincadeira.
Sara: E que tal me vires ajudar?
T: Népia, estou bem aqui.
Joana: Ai que nem penses que nós ficamos aqui a lavar isto tudo e tu e o Ricky aí sentadinhos.
Ricardo: Eu não sei lavar a loiça.
T: Que rei. - ri-se.
Ricardo: Mesmo meu irmão.
Joana: É assim,  eu lavo, a Sara passa a loiça por água, o Ricardo seca e o T arruma-a. Vá vá.
T: Fogo, não quero nada.
Ricardo: Anda lá, a minha princesinha precisa de ajuda.

Fui vendo os passos da Sara com o T, ela tentava aproximar-se e ele nem dava conta disso. Bem espero que isso mude logo à noite, íamos todos sair a uma discoteca ou bar, precisamos mesmo de nos divertir.




5 de janeiro de 2012

XVI

   Continuei a correr até casa mas parei durante 2 minutos a visualizar a praia deserta e tal como é seu nome estava completamente deserta, sem uma única pessoa na areia nem no mar. Questionava-me qual seria a história tão trágica daquela bela praia que fez com que ninguém se dirigi-se lá. Bom, apenas os estrangeiros, tais como ingleses, franceses e ucranianos iam lá por causa das ondas ou então porque como eu achavam a praia bonita. E com isto tudo nem sabiam que a praia não era "habitada" e tinha uma tal história talvez assustadora e misteriosa para se saber.
   Mas, apesar de me perguntar a razão que esta praia é deserta também me perguntava a grande razão do Salvador ser o único português que se atrevia a meter lá os pés. E essa grande perguntava não tinha nenhuma resposta, é que não tenho a mínima noção do motivo de ser o único a dirigir-se até lá. Contudo, todos mas mesmo todos ignoravam aquela praia, e além disso era super linda apesar de não ser vigiada por nenhum nadador salvador, o mar tinha uns tons de verdes e azuis e parecia não ter fim. Estava tão envolvida naquela paisagem que nem ouvia um único som, nem mesmo o barulho que o Ricardo fazia com os sapatos, ele chegou e agarrou-me por de trás o que fez com que eu apanhasse um grande susto.

Ricardo: Olá meu amor!
Joana: Ai, que susto. - disse com o coração a bater numa velocidade imensa. - Não estava à espera.
Ricardo: Eu reparei, estavas imóvel a olhar para o mar.
Joana: É lindo.
Ricardo: Tu és mais. - disse com uma voz grossa, mais que o habitual.
Joana: Ó amor estás tão fofinho hoje.
Ricardo: Foi da noite de ontem, conseguiste deixar-me assim.
Joana: Como consegui? Eu sou o máximo. - disse enquanto me virava de frente para ele.

Fez-se um grande silêncio entre nós com um barulho de fundo, as ondas do mar. Estava um pouco de vento e o meu cabelo esvoaçava fazendo imensos embaraços mas ao mesmo tempo tornando-me free. Ele estava virado de frente ao sol e como era gigante o sol iluminava-lhe a cara o que fazia com que os seus grandes olhos azuis misturados com cinzento sobresaissem. E eu com isto tudo fiquei deliciada, ele é completamente lindo!
  Abracei-o com a maior parte das minhas forças, sentindo a sua respiração no meu pescoço e a paisagem ajudava naquele momento. Estava com  vontade de lhe dizer aquilo... Aquilo... Que o amo. E parecendo que me leu os pensamentos, aproximou a sua boca da minha orelha direita e disse:

Ricardo: Amo-te!

O silêncio maldito volta a aparecer, e a minha boca parecia estar cosida pois não consegui pronunciar nem uma única palavra. As minhas mãos tremiam foi a coisa mais sincera que me disseram, nem mesmo o Diogo tivera a coragem de me dizer que me amava.

Ricardo: Não dizes nada? - disse fazendo uma cara de preocupação.
Joana: Nunca ninguém foi tão sincero comigo desse modo.
Ricardo: Nunca to disseram?
Joana: Já mas dito por ti teve um impacto diferente, foi verdadeiro o que disseste, eu senti. Por isso é que não tive reacção.
Ricardo: Quero-te fazer feliz. - disse ao mesmo tempo que me agarrava pelo ar .

E de novo, de um momento para o outro estava com os meus dedos entrelaçados nos dele. Ele mimava-me fazendo caricias na cara e beijando o meu pescoço. E nesse momento eu não tive medo.

Joana: És especial para mim, também te amo.