7 de abril de 2012

II

 Entramos no seu apartamento, era minúsculo mas tinha uma decoração que deixava qualquer um de boca aberta. Ainda por cima eram as minhas cores preferidas verde e preto. A cozinha era colada à sala que era muito pequena. Tinha um pequeno quarto apenas com uma cama e um roupeiro e uma casa de banho que só cabia uma pessoa lá dentro. Além da casa ser uma miniatura eu sentia-me bem lá.

- Podes deixar a tua mala no meu quarto se quiseres. Eu vou à casa de banho lavar a cara. - dirigindo-se para a casa de banho.
- Bem, a tua casa parece uma casa de bonecas. - dou uma pequena gargalhada enquanto me sento no sofá preto e confortável.
- Não há dinheiro para grandezas.
- Imagino que não, mas sabes sinto-me muito bem aqui. Um dia faço o mesmo que tu.
- O quê? - ela na realidade não estava com a atenção em mim, nem na sua cara, o seu pensamento rondava o Ricardo.
- Comprar uma casinha assim.
- Não queiras. É horrível viver num apartamento, ainda por cima com os vizinhos de cima que tenho. Prepara-te amanhã de manhã. - ela esforçou-se para dar uma gargalhada mas fracassou.
- Porquê? - digo com uma certa preocupação, esperando de si o pior.
- É a vizinha, peneirenta! Nem imaginas, tem a mania de andar de saltos altos. Enfim... vais ter que te habituar.
- Não há problema. - estava nas calmas. - Quando vens para aqui? Quero que me contes tudo. Vá para quê que te estás a limpar se sabes que não vai valer de nada? - honestamente retorqui.

Ela aproximou-se, e sentou-se ao meu lado. Cruzou as pernas e a sua cabeça dizia-lhe para se encostar ao meu ombro mas ela não fez.

- Ontem estava descontraída em casa quando recebo uma chamada, da Joana a namorada do Ricardo. A dizer que o Ricardo tinha tido um acidente de carro. - o seu choro voltara novamente.
- Mas o que aconteceu? Alguém vinha em contra mão? Qual foi o problema para ele ter o acidente?  - disse-lhe, ainda pensando nas suas palavras « da Joana a namorada do Ricardo.» nem ela imaginava que eu conhecia a Joana.
- É uma longa história. - disse, soluçando.
- Posso saber?
- Sim, podes mas não sei se é uma boa história.
- Estou de ouvidos. - abracei-a e coloquei o meu braço à volta do seu pescoço para lhe dar consolo.
- Pelo que a Joana me disse ela ia à casa do Ricardo, mas não lhe tinha dito nada. E a casa do Ricardo ainda é em Lisboa perto de Saldanha. Então, era uma espécie de surpresa. Mas, quando lá chega encontra-o na cama com outra. Ela disse-me que não teve reacção, e que ficou enojada logo ao deparar-se com aquela cena. Eles já não andavam bem parece que andavam com umas brigas e discutiam por tudo e por nada. - faz uma pausa para se assoar. - A Joana saiu de lá, e o Ricardo pegou no carro e foi atrás dela mas, foi a pior coisa que ele fez. Logo ai um camião esmagou-o, não sei como conseguiu sair intacto. Apesar de estar em coma. - ela chorava e chorava compulsivamente.
- Tem calma. - dei-lhe beijos na testa, porque sei que ia reconfortá-la.



A Joana deve estar destroçada, pensei. Estava com um cólera àquele bandido, àquele filho da p***, nem sei o que fazia se nada do que lhe aconteceu tivesse acontecido. Era capaz de ficar na mesma, ou seja, em coma. Eu queria naquele momento encontrar a Joana.

- E como é que a Joana está? - disse preocupado.
- Não sei, nem tive coragem de ir ao hospital. Mas pela sua voz ofegante ao telefone estava a chorar bastante. Além da traição ainda assiste quase à morte do namorado, deve ser tão doloroso. Se, para mim já  é então imagina para ela. - agarra-me com força, e molha-me cada vez mais a camisa com as suas lágrimas.


Continua.

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