3 de dezembro de 2012

Sunset #6

Açores, doce Açores.

   Vivo nos Açores desde os meus 3 anos de idade, devido a uma promoção no emprego do meu pai. Nessa altura a minha mãe já estava grávida das gémeas, a Catarina e Carolina. O Afonso revoltou-se com a decisão dos meus pais e não queria ir para uma ilha onde toda a gente fala de maneira estranha. Mas, com o passar do tempo habituou-se e foi aqui, nos Açores, onde ele teve os melhores momentos e experiências da sua vida. Já comigo está tudo a correr mal, onde está o Vasco? Esta é a pergunta que me atormenta todos os dias e que até agora está sem resposta. Cheguei a casa e parecia que estava tudo como deixara, a minha mãe estivera em casa todos estes dias que estive internada?
   Era um dia especial, a minha mãe convidou maior parte da família, amigos, conhecidos e até mesmo desconhecidos. Fez uma festa de regresso a casa, não sou muito dada a essas coisas, prefiro a calma e o silêncio de uma casa do que música e uma multidão a sujá-la. Estava tudo arranjado no jardim, mesas com petiscos, bebidas e vários tipos de frutas. Perto do baloiço de madeira construído pelo meu pai estava um grelhador e o cheiro de carne assada voava pelos ares. Quem estava a tratar disso era o vizinho do lado direito, um homem na casa dos trintas e solteiro. A vizinhança pensa que ele é homossexual mas, a verdade é que desconfio que entre ele e a minha mãe está a fazer faísca. Não me importo, estou completamente à vontade com a suposta relação deles. Ele é super simpático e o seu rosto bem redondo com barba de 3 dias que ao cumprimentar faz cócegas transmite-me segurança (na realidade ele torna-se uma espécie de protetor para mim.)

 - Então Matilde como te sentes? - disse o vizinho que se chama Sérgio. - Desculpa não te ter ido visitar mas sabes que o meu trabalho é uma merda.- sempre sem vergonha mas bom trabalhador, um grande piloto de aviões.
- Estou a melhorar. Ó Sérgio não faz mal eu sei que brincar aos aviões é complicado.
- Não me deixes ainda pior por não te ter feito uma visita. - colocou a sua mão no meu ombro.
- Olha, a carne ainda queima. Depois do almoço falamos que eu quero saber o que aconteceu na minha ausência. - pisco-lhe o olho e as suas bochechas rapidamente coraram.

  Decidi ir  dar uma voltinha aos convidados mas, todos se anteciparam e correram na minha direção. Estava cá o Tio Manuel, só aquela cara me repugnava. «Como é que a minha mãe tivera a lata de o convidar depois de saber o que me fez quando era uma inocente criança?», pensei. Mas, o que chamou mais a minha atenção foi um estranho junto ao lago. A tonalidade da cor do seu cabelo não me era estranha, era um rapaz bastante atraente e tinha um sorriso brilhante e contagioso. Porquê será que a minha mãe tinha convidado aquele rapaz? Foi esta a pergunta que me levou a ir cumprimentá-lo e perceber a razão da sua presença.

Continua.

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