3 de novembro de 2012

VII - Valoriza-te.

    Ela ficou estática a olhar para o céu, era a maior "coisa" que tinha feito a uma rapariga e com mais sentimento, mas na realidade a Joana não é uma rapariga qualquer. Ainda me encontrava do outro lado da rua mas apesar da distância conseguia ver o brilho dos seus olhos. Era um avião branco e pequeno, um avião banal. Trazia uma mensagem: "VALORIZA-TE", era uma palavra simples que criava um misto de emoções, sensações e sentimentos. Com o som do avião e dos carros que passavam entre nós a alta velocidade não consegui perceber o que dizia mas percebi que tentava comunicar comigo. O avião finalmente já ia longe mas ela não deixava de seguir com o olhar o percurso deste. Até que baixou esse estrondoso olhar. Eu gritei:
 - O que disseste? - não obtive resposta, ela nem se mexeu. Nesse preciso momento caiu-me uma pinga na testa, e mais outra e continuava a cair, olhei para o céu e estavam umas nuvens escuras e muito pesadas. Então, começou a chover torrencialmente. Subi as escadas já um pouco molhado, abri a porta e ela estava na varanda, não se tinha mexido e soluçava constantemente. Aproximei-me dela e senti a sua respiração descontrolada, apercebi-me que chorava. Num abraço apertado sussurrei-lhe ao ouvido:

 - Já te disse que não te podes ir abaixo.
 - Eu sei, mas é difícil Salvador.
 - Tu não te podes prender a ele. - disse isto com alguma brutidão.
 - Tenho que me valorizar, não é?
 - É o mais importante, não te esqueças do que ele te fez. - estávamos a ficar encharcados mas mesmo assim dei-lhe um beijo envergonhado na bochecha.
 E nesse segundo a Matilde abre a porta com alguma brusquidão como se soubesse que eu e a Joana nos estávamos a reconciliar. Depois entrou o T, já não o via à algum tempo mas também não fomos os melhores amigos nem os melhores inimigos apenas ele não gosta muito de mim e ele para mim é indiferente. Eles entraram,  disseram " boa tarde" e foram logo para a cozinha, falavam baixinho eu olhei para a Joana e ela olhava para mim, percebemos que provavelmente falavam de nós. Eu dirigi-me à casa de banho para poder tirar aquela roupa encharcada e tomar um duche, e ela veio atrás de mim. Fechou a porta.

- O que estás aqui a fazer? Eu gostava de tomar banho.
- Desculpa. - morde o lábio.
- Não vais sair?
- Não. - nesse momento vai até à porta e tranca-a.
- O que estás a fazer, Joana?
- Não se vê bem? Estou a trancar a porta.
- Para quê?
- É preciso ser tão explicita?
- Sim, explica-te. Que pretendes fazer com isto?
- Existem coisas que têm mais piada se não forem explicadas. - sorri, aproxima-se cada vez mais. Despe-se e ...
- Sabes o que estás a fazer?
- Sei, Salvador.
- Tens a certeza?
- Cala-te.
- Cala-me. - beijou-me e continuou a beijar-me. Entramos no duche, ainda com roupa interior. Estávamos num conto de fadas e a cada segundo isto podia acabar, era talvez uma ilusão, um sonho, uma irrealidade.

- Viaja comigo. - disse.
- Para onde?
- Vem comigo para Itália. - A Matilde estava na sala e gritava pela Joana, parecia estar novamente a chorar como nos dias anteriores, a Joana saiu da banheira e eu fui atrás dela, cobertos com toalhas. Saímos os dois ao mesmo tempo e a Matilde estava com o T, sentados no sofá. Ela chorava e depois disse: " Vão desligar as máquinas."

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