24 de novembro de 2012

Sunset #3

    Quando recuperei os sentidos a minha visão estava turva e não conseguia distinguir nada à minha volta. E sem nitidez na visão vi um borrão vermelho a vir direito a mim pegando-me ao colo. Eu mal conseguia respirar e comecei a tossir compulsivamente.  Conseguia ouvir sirenes por todo o lado o que parecia atingir a cabeça como pequenas agulhas que me provocavam imensa dor. Quando nos afastamos daquele inferno apercebi-me que o sujeito que me pegara encostou a minha pequena cabeça contra o seu peito e foi aí que senti um odor a suor masculino.

- Está-me a ouvir? - disse o borrão vermelho.

Levantei a cabeça para lhe ver o rosto e vi uns olhos azuis brilhantes que olhavam desesperadamente para mim. Senti uma dor forte no meu braço direito e gritei devido a esse desconforto. Não consegui pronunciar nada e ouvi alguém a suspirar, era ele. A sua voz ouve-se repentinamente e ao mesmo tempo vejo um vulto a aproximar-se de mim.

- Está-me a ouvir? Responda-me!

Sentia-me tonta e nem forças tinha para falar, limitei a mexer o indicador da minha mão esquerda. Os meus olhos cederam à tentação e nesse mesmo instante fechei-os.

                                                                    *     *     *

   Acordei novamente e num ressalto sonhei que tinha sido vitima num incêndio, logo depois vi que estava numa cama de hospital então esse sonho tornou-se num verdadeiro pesadelo, o meu pesadelo. A minha mãe encontrava-se numa cadeira branca ao meu lado e eu perguntei-lhe:

- O que é que eu estou aqui a fazer? - estava com tanto temor.
- Filha.... - ela disse isto de uma maneira que pensei que estava a morrer- Sofreste um acidente. - completou a sua frase.
- Que acidente? Eu estava com o Vasco tão bem.
- Não te lembras querida? - fez uma expressão facial preocupante.
- Não. - fiz uma pausa - E então onde se encontra o Vasco?

  Instalou-se um silêncio medroso e eu comecei com os nervos à flor da pele, o meu corpo começou a verter água, estava a transpirar. Uma dor forte latejava num dos meus braços, levantei o braço na direção dos meus olhos e aquela dor tornava-se ainda mais forte. Tinha o braço direito revestido de adesivos, olhei para a minha mãe e de novo para o braço. Ela continuou calada e baixou a cabeça.

- Merda! Vieste aqui fazer o quê se estas calada? Diz-me o que se passa comigo! - bati com a mão no colchão demonstrando a minha raiva.
- Matilde... - hesitou nas suas palavras.
- Diz de uma vez por todas mãe! - a ira acrescentou assim como a transpiração - Diz-me, por favor.
- O Vasco, - fez uma pausa - Como eu hei de dizer isto? Bem, o Vasco... - não conseguiu dizer-me e eu comecei a ficar irritada.
- Então? Onde ele está? 
- Não sabem dele, minha filha. - baixou de novo a cabeça e eu fiquei sem reação.
- Como não sabem dele? Ele estava comigo. 
- Querida, eu não sei. Foram só as informações que me deram.
- Mas... - a minha voz perdeu-se e voltou de novo o choro que anteriormente era preocupante mas que agora era compulsivo. A minha mãe aproximou-se de mim e consolou-me com um sincero e apertado abraço.Voltei a olhar para o braço e sentia receio de perguntar mais qualquer coisa que seja. Mas arrisquei.

- Mãe! - chamei-a - O que aconteceu ao meu braço? Sinto um enorme desconforto.
- Oh! Querida, sofreste... sofreste de algumas ... queimaduras. - custara-lhe imenso dizer-me as ultimas palavras.

   Estava presa a uma cama branca e feia dum hospital.

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