19 de novembro de 2012

Sunset #2

  Ele fez umas caretas provavelmente não estava a perceber o "porquê" de eu lhe ter feito tal coisa. Eu mantive-me firme com os olhos colados ao chão. Colocou outra vez a mão no bolso direito, mas algo lhe fez mudar de ideias, penso que me olhou de relance e desistiu de fumar outro.

- O que se passa? - perguntou com a voz colérica.
- Nada amor. - menti-lhe- Afinal o que tens mais para me mostrar? - perguntei afim de que mudássemos de assunto.
- Nada demais é uma coisa simples.

Na tenda estavam almofadas e cobertores, não me admirei nada, era tão típico dele. Voltei a sentir arrepios a percorrem-me o corpo pois isto só reforçava as suas intenções para a noite que já estava instalada. Na minha cabeça passavam mil e uma recordações do passado e imagens do futuro que estava para vir. Ele não soubera de nada do meu passado, nunca tivera a ousadia de lhe contar. Saberia que iria reagir mal ou talvez deixar-me.

- E o jantar? Onde, como e o quê é que vamos comer?
- Aí está mais uma surpresa. - respondeu-me com um enorme sorriso.
- Como assim? - retorqui.
- Esqueci-me desse pequeno pormenor.
- Como é que isso é possível, Vasco? Deves estar a gozar comigo.
- Oh! Meu amor desculpa. - volta a aproximar-se agarrando-me nas ancas.
- Larga-me, fogo, estou a morrer de fome. - resmunguei.
- Então fazemos assim, vamos um pouco para a tenda descansar e depois vamos até à vila comprar comida.

    Eu não queria, queria era comer e ir direita a casa.  Já sabia que ele ia tentar alguma coisa, aliás, tinha a certeza. Eu para ele só sou um nível de um jogo a caminho de ser alcançado a qualquer momento. Era nesta noite, eu sentia.

- Está tão escura, preferia que tivéssemos aqui à luz do dia. Tu sabes que quando eu era pequena tinha medo do escuro.
- Mas eu estou aqui ao pé de ti, ninguém te faz mal. - descansou-me.
- Está mesmo muito escuro. - insisti com ele.
- Ok, pronto. Eu faço uma pequena fogueira para nos aquecer e fazer claridade, pode ser? - solucionou.

 Foi-se afastando tentando encontrar pequenos braços de árvores por ali abandonados. Amontoou tudo fazendo um circulo juntamente com folhas rabiscadas que tinha dentro dos bolsos do casaco. A aragem que anteriormente era suave desapareceu e naquele momento esta tudo calmo, para acender a futura fogueira tirou do seu famoso bolso direito o isqueiro. E estava a arder e já se fazia luz, eu já lhe conseguia ver o rosto.
- Acho que vou para dentro da tenda está frio aqui fora. - disse-lhe.
- Ok Matilde, já vou ter contigo, vai-te preparando. - pisca-me o olho.

   Eu entrei na tenda com um nó no estômago em vez de sentir borboletas. Definitivamente eu não queria que isto acontecesse , não ali, não agora, e talvez não com ele. «Vai-te preparando», esta era a frase que me estava a enlouquecer naquele momento, o que é suposto eu fazer?

                                                                            *     *     *

Já estava na tenda à alguns minutos e o Vasco não aparecia, achei estranho porque a fogueira já estava arder à imenso tempo e parecia maior mas apenas um pouco. Abri o fecho da tenda e entrou um fumo inimaginável, estava presa entre chamas e tudo estava a arder à minha volta, chamei pelo Vasco mas não recebi resposta. O fumo entranhava-se pelas minhas narinas a dentro segundos depois perdi o oxigénio...

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