8 de fevereiro de 2012

XXIV

   A raiva percorria o meu corpo todo, numa velocidade inimaginável como quem foge de um cão, neste caso de quem tem medo de cães. O Salvador veio comigo, e parece que já me habituei ao nosso silêncio, talvez não tenha dito nada porque não devia ou tinha um pouco de receio da minha resposta ou até mesmo da minha reacção. Depois de andarmos tanto sem parar, eu decidi parar. Estávamos num descampado, - quando digo isto, lembro de policiais e coisas do género - tudo à nossa volta era verde, árvores enormes e outras mais pequenas, e a erva passava-nos por cima dos tornozelos. Fiquei a contemplar aquela paisagem enquanto o Salvador me contemplava a mim.

Salvador: Então... O que se passou? - deu iniciativa.
Joana: Tu sabes, porquê que perguntas?
Salvador: Para ter a certeza. Estás bem?
Joana: Parece-te que estou bem?
Salvador: Hum... Não, mas devias porque estar com o Grande Salvador.
Joana: Não sejas idiota.
Salvador: Não sou.
Joana: És sim.
Salvador: Vem cá. - agarra-me pela cintura e os nossos corpos reencontram-se de novo.
Joana: Diz...
Salvador: O que sentes?
Joana: ... A tua respiração.
Salvador: Não! O que sentes?
Joana: O meu corpo a estremecer, mesmo sabendo que ele não se está a mexer.
Salvador: Estas a pensar em alguém?
Joana: Não.
Salvador: E em algo?
Joana: Também não. - digo novamente.
Salvador: Então... - faz uma pausa. - Porquê que foges sempre?
Joana: Hum... - fiquei sem palavras. - Hum... - e o meu telemóvel começa a tocar.
Salvador: Atende. - disse e começou a afastar-se de mim.
Joana: 'Tou? Sara?
Sara: «Joana, onde te metes-te? Sabes que horas são? São 18:00h da tarde é melhor vires para ca... »
Joana: Boa, fiquei sem bateria.
Salvador: E agora?
Joana: Temos que ir acho que se passa algo. A Sara estava muito nervosa ao telefone. - começo a correr em direcção à estrada que ainda ficava um bocado longe. - AAAAAAAAH - grito ao mesmo tempo que cai no meio do chão.
Salvador: Joana. - veio a correr para me socorrer. - Estas bem? Magoaste-te?
Joana: Ai, o meu pé. - fazia uns grunhidos.
Salvador: Torceste-o?
Joana: Sim, dói tanto.
Salvador: Levanta-te. - ajuda-me a levantar.
Joana: Não consigo andar, aiiiii.- agarro-me a ele.
Salvador: Eu levo-te até casa.
Joana: És doido, de atrelado só se for.
Salvador: Não, assim. - pega-me ao colo e começa a andar.
Joana: Vais ficar todo dorido.
Salvador: Melhor que não. Ou queres ir a rastejar para casa?
Joana: Bem que arrogante.- Ele começa a rir-se.

  Ao decorrer do tempo, e depois de muito tempo de caminho para a vila, finalmente chegámos. Quando chegámos avistei a minha casa e vi que a Sara estava à minha espera nas escadas perto da entrada que dava á cozinha e perto da caixa do correio. E por falar em correio, ainda não escrevi ao Diogo, nem imagino o que lhe vou dizer. Tenho de pensar nisso com imensa calma, depois daquelas confissões... Se calhar mando-lhe uma mensagem para o Facebook.

Salvador: Vá, as melhoras princesa.
Joana: Adeus. - aproximo-me para lhe dar um beijo na bochecha, e vou em direcção à Sara ainda a coxiar um pouco.
Sara: Oh meu Deus, estás bem?
Joana: Isso pergunto eu. O que se passa? Eu notei na tua voz ao telemóvel.
Sara: Porquê que me desligaste o telemóvel na cara?
Joana: Fiquei sem bateria, tonta.
Sara. Ahh...
Joana: Vá conta-me.
Sara: Pensava que já te tinhas esquecido.
Joana: Óbvio que não. Conta-me, já estou a morrer por dentro.
Sara: Eu... E o T... -não diz mais nada.
Joana: Sim...
Sara: Beijámo-nos. - e quando eu comecei a fazer uma festa ela interrompeu-me. - Ele parou o beijo e disse para eu não repetir.
Joana: O quê?
Sara: Sim Joana, e agora? - eu não digo nada apenas abraço-a. - Quero voltar a casa uns dias, vens comigo?
Joana: Não sei.... - fiquei à nora.
Sara: Apanhamos o autocarro amanha de madrugada e não dizemos nada a ninguém, deixamos um bilhete e vamos para Almada, por favor amiga. Além disso, tu e o Ricardo estão assim e tu não deves suportar a Matilde cá.
Joana: Pois, mas assim o Ricardo vai pensar que sou uma cobarde e fugi, e mesmo assim deixá-lo aqui com aquela ave? Não sei o que fazer.
Sara: Por favor...
Joana: Vou pensar.

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