- Está-me a ouvir? - disse o borrão vermelho.
Levantei a cabeça para lhe ver o rosto e vi uns olhos azuis brilhantes que olhavam desesperadamente para mim. Senti uma dor forte no meu
braço direito e gritei devido a esse desconforto. Não consegui pronunciar nada e ouvi alguém a suspirar, era ele. A sua voz ouve-se repentinamente e ao mesmo tempo vejo um vulto a
aproximar-se de mim.
- Está-me a ouvir? Responda-me!
Sentia-me tonta e nem forças tinha para falar, limitei a
mexer o indicador da minha mão esquerda. Os meus olhos cederam à tentação e
nesse mesmo instante fechei-os.
* * *
Acordei novamente e num ressalto sonhei que tinha sido
vitima num incêndio, logo depois vi que estava numa cama de hospital então esse sonho tornou-se num verdadeiro pesadelo, o meu pesadelo. A minha mãe
encontrava-se numa cadeira branca ao meu lado e eu perguntei-lhe:
- O que é que eu estou aqui a fazer? - estava com tanto
temor.
- Filha.... - ela disse isto de uma maneira que pensei que
estava a morrer- Sofreste um acidente. - completou a sua frase.
- Que acidente? Eu estava com o Vasco tão bem.
- Não. - fiz uma pausa - E então onde se encontra o Vasco?
Instalou-se um
silêncio medroso e eu comecei com os nervos à flor da pele, o meu corpo começou
a verter água, estava a transpirar. Uma dor forte latejava num dos meus braços,
levantei o braço na direção dos meus olhos e aquela dor tornava-se ainda mais
forte. Tinha o braço direito revestido de adesivos, olhei para a minha mãe e de
novo para o braço. Ela continuou calada e baixou a cabeça.
- Merda! Vieste aqui fazer o quê se estas calada? Diz-me o
que se passa comigo! - bati com a mão no colchão demonstrando a minha raiva.
- Matilde... - hesitou nas suas palavras.
- Diz de uma vez por todas mãe! - a ira acrescentou assim
como a transpiração - Diz-me, por favor.
- O Vasco, - fez uma pausa - Como eu hei de dizer isto? Bem,
o Vasco... - não conseguiu dizer-me e eu comecei a ficar irritada.
- Então? Onde ele está?
- Não sabem dele, minha filha. - baixou de novo a cabeça e
eu fiquei sem reação.
- Como não sabem dele? Ele estava comigo.
- Querida, eu não sei. Foram só as informações que me deram.
- Mas... - a minha voz perdeu-se e voltou de novo o choro
que anteriormente era preocupante mas que agora era compulsivo. A minha mãe
aproximou-se de mim e consolou-me com um sincero e apertado abraço.Voltei a olhar para o braço e sentia receio de perguntar
mais qualquer coisa que seja. Mas arrisquei.
- Mãe! - chamei-a - O que aconteceu ao meu braço? Sinto um
enorme desconforto.
- Oh! Querida, sofreste... sofreste de algumas ...
queimaduras. - custara-lhe imenso dizer-me as ultimas palavras.
Estava presa a uma
cama branca e feia dum hospital.
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