- O que se passa? - perguntou com a voz colérica.
- Nada amor. - menti-lhe- Afinal o que tens mais para me
mostrar? - perguntei afim de que mudássemos de assunto.
- Nada demais é uma coisa simples.
Na tenda estavam almofadas e cobertores, não me admirei
nada, era tão típico dele. Voltei a sentir arrepios a percorrem-me o corpo pois
isto só reforçava as suas intenções para a noite que já estava instalada. Na
minha cabeça passavam mil e uma recordações do passado e imagens do futuro que
estava para vir. Ele não soubera de nada do meu passado, nunca tivera a ousadia
de lhe contar. Saberia que iria reagir mal ou talvez deixar-me.
- E o jantar? Onde, como e o quê é que vamos comer?
- Aí está mais uma surpresa. - respondeu-me com um enorme
sorriso.
- Como assim? - retorqui.
- Esqueci-me desse pequeno pormenor.
- Como é que isso é possível, Vasco? Deves estar a gozar
comigo.
- Oh! Meu amor desculpa. - volta a aproximar-se agarrando-me
nas ancas.
- Larga-me, fogo, estou a morrer de fome. - resmunguei.
- Então fazemos assim, vamos um pouco para a tenda descansar
e depois vamos até à vila comprar comida.
Eu não queria,
queria era comer e ir direita a casa. Já
sabia que ele ia tentar alguma coisa, aliás, tinha a certeza. Eu para ele só sou um nível de um
jogo a caminho de ser alcançado a qualquer momento. Era nesta noite, eu sentia.
- Está tão escura, preferia que tivéssemos aqui à luz do
dia. Tu sabes que quando eu era pequena tinha medo do escuro.
- Mas eu estou aqui ao pé de ti, ninguém te faz mal. -
descansou-me.
- Está mesmo muito escuro. - insisti com ele.
- Ok, pronto. Eu faço uma pequena fogueira para nos aquecer
e fazer claridade, pode ser? - solucionou.
Foi-se afastando
tentando encontrar pequenos braços de árvores por ali abandonados. Amontoou
tudo fazendo um circulo juntamente com folhas rabiscadas que tinha dentro dos
bolsos do casaco. A aragem que anteriormente era suave desapareceu e naquele
momento esta tudo calmo, para acender a futura fogueira tirou do seu famoso
bolso direito o isqueiro. E estava a arder e já se fazia luz, eu já lhe conseguia
ver o rosto.
- Acho que vou para dentro da tenda está frio aqui fora. -
disse-lhe.
- Ok Matilde, já vou ter contigo, vai-te preparando. -
pisca-me o olho.
Eu entrei na tenda
com um nó no estômago em vez de sentir borboletas. Definitivamente eu não queria
que isto acontecesse , não ali, não agora, e talvez não com ele. «Vai-te
preparando», esta era a frase que me estava a enlouquecer naquele momento, o
que é suposto eu fazer?
* *
*
Já estava na tenda à alguns minutos e o Vasco não aparecia,
achei estranho porque a fogueira já estava arder à imenso tempo e parecia maior
mas apenas um pouco. Abri o fecho da tenda e entrou um fumo inimaginável,
estava presa entre chamas e tudo estava a arder à minha volta, chamei pelo
Vasco mas não recebi resposta. O fumo entranhava-se pelas minhas narinas a
dentro segundos depois perdi o oxigénio...
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